quarta-feira, 21 de abril de 2021

A vida nos permite muito mais do que a morte

Estávamos em um lugar onde ninguém conhecia ninguém. É comum que as pessoas sejam superficiais, tanto nesse lugar quanto em outros. Na verdade, a sociedade se tornou muito dispensável, tal qual ela está. O fato é que as pessoas se preocupam mais com o que elas querem saber, com o que elas precisam saber, com o que elas... enfim... se preocupam com elas. Nesse lugar, as pessoas aparecem e somem. Perguntam como estão por conveniência, sua idade, onde mora, às vezes, e mudam a conversa. Não com você, mas mudam a conversa para outra e você não está mais incluído.

Em um desses momentos raros de que ainda vale a pena apostar na sociedade, uma pessoa surge. Não estava bem! Mas nessa vida, quem está bem? Estava em crise. Uma crise que a acometia por não saber o que fazer. Ouvi. Tentei, mas na verdade, eu falei.

Ela precisava saber o que fazia com algo que tinha feito e não tinha dito pra ninguém. Eu precisava dizer sobre algo que sentia que não tinha dito sobre o sentimento pra ninguém. Ela falou. Eu falei. Eu falei. Eu falava e meus sentimentos afloravam. Ela falou. Eu falei, falei tanto que eu sentia meus momentos dilacerando meu corpo. Falamos de morte.

Ela questionou sobre a morte. Eu questionei sobre a morte. A morte era algo complexo para nós e para uma amiga dela, que entrou no assunto - não na conversa. A morte é um assunto complexo. Queria eu dizer que nunca pensei em morrer, mas eu não podia. Queria eu dizer que pessoas próximas morreram e eu não sei lidar com isso até hoje, mas não consigo. Falamos da vida.

A vida não nos ensina que errar é normal e acertar é anormal. Passamos a vida toda errando para acertar e somos julgados pelos erros. Ninguém nos ensina a viver, mas nos cobram como viver. Ninguém ensina que cometer erros é necessário, mas a sociedade ensina que é necessário acertar. A morte é consequência de uma das tentativas de acertar, embora seja um erro fatal. O único erro que falam pra gente é esse: morrer é errado. Já parou para pensar que ninguém ensina que viver é certo? Falamos de viver.

No fim, foi preciso dizer que precisamos ser humanos e não seres humanos, como nos livros. Acho que esse seja o problema da sociedade, ensinam sobre seres humanos nos livros escolares, mas não na vida. Esquecem de nos dizer o principal: a vida nos permite muito mais do que a morte e não o contrário.

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