segunda-feira, 19 de abril de 2021

Há alguém do outro lado?

Ela estava ali, me encarando e me dizendo que eu não era ninguém. Na verdade, há mais de um ano que ela me dizia isso. Fui para no hospital no ano passado, mas nunca imaginei que isso poderia ter contribuído. Até por que, no início, entre tantos acontecimentos, não achei que ela me faria mau. Sempre gostei dela. Na verdade, amava. Amo. Só que ela mudou muito.

Quando a conheci, meio que não dei moral. Ignorei um pouco, mas eu era muito novo. Depois, fomos nos conhecendo mais. Mais e mais. Até que eu não resisti e me rendi. Sempre a quis, só não sabia. Ao longo dos tempo, fomos mudando. Era instigante ver como ela e eu amadurecemos, tanto juntos quanto separados. Não éramos só nós, pois compartilhávamos de muita coisa. O silêncio era na medida certa, as vozes na dose correta e os ruídos eram para dar aquele fervor na nossa relação. Era bom estar com ela.

Há um ano isso mudou. Ela se virou contra mim. Ela me dopou. Fiquei dependente dela para tudo. Não vivo sem ela, não trabalho sem ela, não estudo sem ela e ela sabe disso. Como fui parar nessa situação? Seu rosto, que era tão singelo e singular, se tornou um martírio. Ela não tem o mesmo rosto, na verdade, ela não tem rosto. Ela, quando fala, já não fala com a mesma voz. Seu rosto e sua voz não respondem ao que pergunto. Há alguém me ouvindo? Me pergunto! Há alguém do outro lado? Me questiono.

Ela mudou. Seu rosto é desconhecido há um ano. Não sei quem está do outro lado. Sua voz é desconhecida há um ano. Não sei quem fala do outro lado. Seus rostos e suas vozes ora me causam estranheza ora me levam à loucura ora nem eu sei o que fazer.

Ela estava ali, me encarando e me dizendo que eu não era ninguém. Eu sei que ela ainda me vê, talvez só tenha se perdido há mais de um ano, quando tudo começou. No início, eu não dei moral, até dormi quando ela falava comigo. Eu tinha apenas 10 anos quando a conheci. Foi a primeira tela que eu me lembro. Depois me apaixonei. Ela era meu refúgio e, agora, é meu desabrigo. Eu me projetei no desalento de estar visível quando, na verdade, ninguém me vê.

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